Pular para o conteúdo principal

O Fantástico Mundo de Nárnia

     Pra quem pensa que Nárnia é apenas aquela terra encantada que quatro órfãos visitam e que cabe dentro de um guarda-roupa, este post será revelador. Isso porque C.S. Lewis idealizou esse complexo 'mundo' em suas crônicas, a partir de 1949 com O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, seguido de mais seis volumes que completam as renomadas Crônicas de Nárnia
      As histórias de faunos, elfos, minotauros e criaturas místicas são apenas a casca dessa história que possui diversas metáforas e analogias que nunca foram confirmadas oficialmente pelo autor mas que já foram tema de teses de doutorado mundo afora, explicitando a profundidade dessa obra. Vamos olhar mais de perto alguns elementos embutidos nas crônicas que podem ter passado despercebido pra quem assistiu os filmes. Não custa lembrar que esse post terá SPOILERS do livro.

     1.  Filhos de Adão e Filhas de Eva:
     O primeiro aspecto que evidencia o teor metafórico e até religioso das crônicas é chamar os humanos em Nárnia de Filhos de Adão e Filhas de Eva. Essa temática cristã introduzida subliminarmente as obras causa até hoje diversas polêmicas e controvérsias a respeito das intenções do autor. Uns dizem que é uma forma de apresentar aos jovens temas religiosos de forma facilmente assimilável e assim catequisá-los. Outros mais conservadores dizem que é uma obra pagã e profana por fazer alusões a trechos bíblicos utilizando símbolos mitológicos. Deixando de lado os argumentos de ambos os lados, o mais claro é que Lewis quis sim trazer temas religiosos pro centro da sua trama, alcunhando de Filhos de Adão e Eva seus primeiros visitantes Lúcia, Pedro, Suzana e Edmundo (na imagem, da esquerda pra direita). 

     2.  Manjar Turco, a Macã do Paraíso:


      Ainda na metáfora de Adão e Eva, C.S. Lewis vai ainda mais longe. Em O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, Edmundo trai seus irmãos em troca do Manjar Turco oferecido pela Feiticeira Branca, que lhe prometeu poder, comida e um palácio. Uma explícita referência a tentação da cobra para Eva, ao oferecer a maçã proibida no paraíso.

     3.  O Tempo:
    
      Lewis também aborda um tema complexo em suas crônicas, que é a relatividade do tempo. No primeiro filme, os quatro irmãos crescem em Nárnia, ficam velhos e um dia acham a luminária que ficava bem na "entrada" desse mundo pelo velho guarda-roupa. Quando eles saem, voltam a ser jovens pois no mundo real não havia se passado nem um minuto. Alguns anos depois, quando retornam pra Nárnia, descobrem que lá havia se passado 1300 anos. Também nisso vemos uma metáfora bíblica ao trecho:

“Um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos são como um dia.”

II Pedro 3.8


     4.  Fé:

      Como uma obra que traz tantas alusões religiosas, não poderia ficar de fora falar sobre . Já no primeiro livro esse tema é tocado, mas também se faz presente em todas as demais obras. Na primeira crônica, Nárnia está a anos sob domínio da Feiticeira Branca, sofrendo com o frio do inverno rigoroso. Os Narnianos ficam desesperançosos que algo possa acontecer para livrá-los dos domínios da Feiticeira, porém com a chegada dos filhos de Adão e das filhas de Eva, alguns começam a crer que Aslam retornará para salvá-los. Assim, Aslam começa a aparecer para Lúcia, a caçula e única que acreditava no retorno do Leão. Sempre que contava a seus irmãos e aos outros que tinha falado com Aslam, diziam que ela estava louca e imaginando coisas, até que ele nos momentos mais difíceis, aparece pra ajudar a todos. Como ele fala na cena abaixo, Lúcia fala que os outros não acreditaram nela e ele questiona: "E por que isso a impediu de vir até mim?". Esses trechos tem referência em Tomé, que fala que só acreditaria que Jesus ressuscitou quando visse com os próprios olhos. Essa descrença no "salvador" é um tema recorrente na obra de Lewis.


     5.  Aslam:

     Por fim, claro que Aslam em si é a maior de todos os elementos que comprovam a veia Cristã das Crônicas de C.S. Lewis. Já na primeira obra é mostrada uma cena em que Aslam faz um acordo com a Feiticeira Branca para perdoar Edmundo pela traição aos irmãos e que ao invés de matar o Filho de Adão, o Leão se oferece para morrer pelos pecados de Edmundo. Essa cena é na verdade uma releitura fantástica da Paixão de Cristo, onde Aslam nessa obra inteira representaria na verdade o Criador e o Salvador, personificados em uma só imagem. Após o sacrifício, veio a ressureição e logo depois de ajudar seu povo a se livrar da Feiticeira, quando todos estão em festa e felizes ele vai embora, representando também que essa procura pela imagem de um salvador só se dá nos momentos difíceis da vida. Abaixo as emocionantes cenas do sacrifício e da ressurreição de Aslam.



     6.  E o final?


     No fim das 7 histórias, em A última batalha, ocorre uma metáfora ao Apocalipse da bíblia. Nessa crônica o Deus Tash (ao lado) após passar a ser cultuado, aparece em Nárnia provocando destruição, desgraças e exigindo sacrifícios humanos em seu nome. Com toda essa tragédia tomando conta de Nárnia, Aslam decreta o fim desse país, criando a Nova Nárnia e levando pra lá todos os bons que ajudaram e fizeram o bem pela antiga terra. Essa Nova Nárnia na verdade é uma apologia ao próprio céu, ao paraíso que vão os bons e os justos segundo a bíblia. 


Já no fim do livro, Aslam revela a todos a verdade e termina o livro de forma arrebatadora, a qual transcrevo pra finalizar esse post:

"-Vocês ainda não parecem tão felizes como eu gostaria.
-É que estamos com medo de sermos mandados embora, Aslam! Já fomos mandados de volta ao nosso próprio mundo muitas vezes.
-Não precisa ter medo - disse o leão. - Vocês ainda não perceberam?
Sentiram o coração pulsar forte e uma leve esperança foi crescendo dentro deles.
-Aconteceu mesmo um acidente com o trem - explicou Aslam. - Seu pai, sua mãe e todos vocês estão mortos, como se costuma dizer nas Terras Sombrias. Acabaram-se as aulas: chegaram as férias! Acabou-se o sonho: rompeu a manhã!"

Comentários